Apresentamos a seguir um breve comentário a respeito da possibilidade de calcular com certa precisão a provável data do nascimento de Jesus, com base no ritual do Santuário hebraico. Embora seja notório e patente que a data não foi o dia 25 de dezembro, por várias razões derivadas do contexto do relato bíblico, permanece a dúvida sobre qual teria sido a data exata que, por razões que ignoramos, não se encontra explicitada em nenhum documento histórico.
Em 1 Crônicas 24 é relatada a maneira adotada para a escolha, por sorteio, dos turnos que deveriam exercer o serviço sacerdotal no Templo:
“Quanto aos filhos de Arão, foram eles divididos por seus turnos (v. 1). ...
Repartiram-nos por sortes, uns com os outros (v. 5). ...Saiu a primeira sorte a Jeoiaribe (v. 7) ... a oitava a Abias (v. 10). ... a vigésima-quarta a Maazias (v. 18).”
Havia, portanto, 24 turnos, cabendo a cada turno, no decorrer do ano, o exercício durante duas semanas. O oitavo turno, como visto, cabia à família de Abias (v. 10). Considerando, pois, o início do ano religioso no mês de Abib (março/abril), o oitavo turno dos sacerdotes corresponderia praticamente ao quarto mês (junho/julho).
Zacarias, marido de Isabel, mãe de João Batista, pertencia ao turno de Abias:
“Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão e se chamava Isabel.” (Lucas 1:5).
Zacarias e Isabel não tinham filhos até sua velhice (cf. Lucas 1:7). Zacarias estava exercendo o sacerdócio quando lhe apareceu então o anjo Gabriel para anunciar-lhe a concepção de João Batista:
“Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem de seu turno, coube-lhe por sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso.” “E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso. Vendo-o, Zacarias turbou-se, e apoderou-se dele o temor. Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João.” (Lucas 1:8-9).
Seis meses depois, Gabriel também anuncia a Maria a concepção de Jesus:
“No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. ... O anjo lhe disse: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus.” Lucas 1: 26-31.
O nascimento de Jesus dar-se-ia então nove meses depois, ou seja, quinze meses após Zacarias ter estado ministrando no Templo. Portanto, a partir do quarto mês do calendário religioso (mês em que Zacarias esteve ministrando no Templo, ou seja, junho/julho), contando-se quinze meses, chega-se ao sétimo mês do calendário religioso (setembro/outubro) como o mês do nascimento de Jesus. Sem dúvida, era este um mês em que as condições climáticas eram propícias para “os pastores guardarem nos campos o seu rebanho durante as vigílias da noite” (Lucas 2:8).
O décimo dia do sétimo mês do calendário religioso – o Dia da Expiação – era um sábado de descanso solene “para fazer expiação por vós perante o Senhor vosso Deus” (Levítico 23: 26-32).
Teria sido este o dia do nascimento de Jesus – Aquele que veio fazer expiação pelos nossos pecados – novamente o tipo encontrando o antítipo?
Adaptado do Boletim Mensal da Sociedade Bíblica Brasileira (dezembro de 2014).
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